- Filho, o papai vai lhe contar agora sobre o mundo profissional. Você já sabe o que vai querer ser quando crescer?
- Sim pai, vou querer ser engenheiro, igual ao senhor.
- Filho, se eu puder lhe dar um conselho, desista dessa idéia.
- Por que, papai? Ser engenheiro é tão ruim assim?
- Não, filho. Claro que não. Papai gosta muito de ser engenheiro. Só que eu vou te explicar sobre o mundo empresarial, e o que você vai enfrentar ao ser um empregado. As empresas eram constituídas com dois grupos de funcionários, os que mandavam e os que executavam. Hoje em dia elas são constituídas também com dois grupos, porém agora são os que fazem e os que não fazem. Os que fazem geralmente são os que não mandam e os que mandam geralmente são os que não fazem. Não que não fazem o trabalho a ser executado, pois isso deve ser feito realmente pelos que executam, mas não fazem seu próprio trabalho como mandantes.
Os supostos líderes, meu filho, hoje em dia, estão preocupados em irem trabalhar bonitos, de terno e gravata para impressionar as mulherers do escritório, e geralmente não conhecem nada do negócio da empresa e muito menos a sua equipe. Eles chegam, mandam alguns e-mails, cobram algumas coisas básicas e vão embora no final do expediente, quando não precisam fazer umas horas a mais por pura política, é claro. Aliás, meu filho, que domina um negócio chamado política vai estar sempre empregado, seja bom ou mau profissional. O funcionário que é político, gosta de conversar com todos, só arruma amizades que possam lhe render algo material e financeiro e prezam muito as aparências. Para eles, o mais importante é “parecer ser” ou fazer de conta que é ou que sabe. Sempre estarão nas suas baias ou salas do escritório sorrindo ao telefone. Existe também o reclamão. Estes estão sempre ferrados, com o perdão da palavra. Eles reclamam muito, e muitas vezes tem razão, porém nada vai mudar. O que não faz vai continuar não fazendo. E o reclamão vai levar a bronca de reclamar demais. Muitos que reclamam porém também estão no grupo dos que não fazem, e reclamam para poder não fazer mais ainda.
Filho, a grande maioria das pessoas gostam de ter um emprego bom, de ganhar um bom dinheiro no fim do mês, de comprar coisas e gostam de se esquecer que para isso deveriam fazer valer seu salário. Nosso país está uma porcaria tão grande que qualquer Zé Mané com um diploma ou certificado consegue um bom emprego. E aí ficam lá na empresa, como sangue-sugas, atrás do salário e prêmios, e não estão muito a fim de trabalhar. Pró-atividade é para um grupo de pessoas muito restritas, filho.
- Mas pai, e os que fazem? Quem são eles?
- Ah filho... Os que fazem... Vou lhe falar sobre os que fazem. Eles geralmente são legais. Porém são extremamente atarefados. Alguns por medo de perder o emprego por não terem muita qualificação e empregabilidade, não passam quase nada do seu trabalho, mesmo quando isso é necessário. Quando passam o que sabem normalmente é com má vontade e pela metade, para que o outro erre e eles possam consertar depois, aumentando as chances de permanecerem no emprego. Outro grupo dos que fazem são realmente bons, sabem seu trabalho, se empenham na empresa e conhecem não só sua atividade, mas tem uma visão macro da empresa. São competentes e geralmente são vistos como talentosos. Outros são tudo isso menos serem vistos, e aí se frustam e deixam isso de fazer as coisas. Percebem que dali onde estão não vão conseguir ir para nenhum outro lugar e acabam se acostumando com a idéia de ser alguém que não faz. Porém sabem que no fundo de sua consciência estão muito desanimados com isso.
- Mas pai, então não existe felicidade na vida profissional? Todos são frustrados ou enganadores?
- Não filho, claro que não. Existem alguns que são muito felizes, mesmo sendo enganadores. Aliás, esses são os mais “felizes”. Ganham bem, tem emprego bom, dão risada o dia todo só que não fazem nada. Sempre empurram seu trabalho com a barriga ou passam para alguém, caso sejam os que mandam. Muitos gerentes de hoje, filho, seriam facilmente substituídos com uma boa regra de Outlook, pois só sabem direcionar o problema ou os próprios e-mails. E alguns funcionários que também gostam de não fazer nada passando o problema pra frente, alegando que aquilo não é com ele, são muito felizes naquela vidinha. Se o papai pode lhe dar então o conselho, monte seu próprio negócio. Trabalhe para você. Seja uma pessoa que realmente faz e acontece, mas focado no seu próprio negócio. Se você for um funcionário, sendo dos que não fazem nada, você vai ser um como qualquer outro. Se você quer fazer a diferença e ser um que faz, você vai estar sempre sobrecarregado de coisas e sem tempo para nada, nem para a própria vida pessoal. Mas ao passo que se você montar seu próprio negócio, o prazer em trabalhar vai fazer você se esforçar para aquilo que é seu, com as suas regras. Depois, quando você atingir o suficiente no seu entender, vai poder desfrutar de sua vida pessoal e deixar que pessoas trabalhem para você, mantendo sua renda. Aí você não vai estar preocupado com os que fazem ou os que não fazem, porque você já vai ter um bom rendimento e nem quer mais esquentar a cabeça com isso. Salvo algumas exceções, esse é o padrão da maioria dos casos.
- Tá pai, entendi. Mas porque então o senhor não montou seu próprio negócio, e parou de ser um dos que fazem ou não fazem na empresa aí que o senhor trabalha?
- ... filho, o papai tem que desligar agora. Depois a gente termina a conversa quando o papai chegar em casa, tá? Um beijo.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
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