quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fiasco Olímpico

Faltando três dias para o encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Brasil está no trigésimo sexto lugar do quadro geral de medalhas. Olhando para trás é possível perceber que esta é uma condição endêmica. Nas Olimpíadas de Atenas, onde o Brasil conseguiu sua melhor performance na história das jogos modernos, ele obteve apenas a décima sexta posição, atrás de países como Cuba, Grécia, Ucrânia e Romênia. Para se ter uma idéia do ridículo da performance brasileira, a décima sexta posição que lhe pertenceu em Atenas, hoje é da poderosissima Nova Zelândia. A pergunta que fica é, como um país que tem a décima economia mundial e a quinta maior população do planeta só consegue resultados pífios?

Antes de começar a descascar o pepino é importante esclarecer alguns pontos que ficam normalmente nebulosos ou são completamente esquecidos: O primeiro é o fato de que não existe nenhum tipo de equiparação entre as medalhas de ouro, prata e bronze. Assim, não importa que seu país tenha duzentas medalhas de bronze, se o outro país tem uma prata ele está em melhor colocação. Segundo, e aqui há algo realmente importante, muitas modalidades esportivas são divididas por categorias de forma que países com tradição nessas modalidades acabam arrebanhando muitas medalhas. Cuba em Atenas, por exemplo, dos nove ouros que conseguiu, cinco foram no boxe. A Romênia obteve oito ouros, quatro na ginástica artística e três no remo. Se as medalhas nessas duas modalidades fossem tiradas da Romênia, seu desempenho de oito ouros, cinco pratas e seis bronzes cairia para um ouro, duas pratas e três bronzes. O Brasil, que só tem tradição mesmo em esportes coletivos, acaba não sendo beneficiado pela divisão de categorias, uma vez que ela não existe nessas modalidades. Claro está que isto não abona o Brasil, mas ao menos ajuda a explicar como alguns países pequenos conseguem bons desempenhos nos jogos.

Agora, o pepino. O Brasil tem um povo patriota que carece de civilismo. Quando em competições internacionais ou em viagens para o exterior, o brasileiro torce e se vangloria das belezas naturais, da cultura, do povo, da tolerância. Agora, uma vez entre os seus, ele cala e se constrange. Aceita absurdos parecendo não se importar com o dia de amanhã. Assim, o amor pátrio do brasileiro é para inglês ver, porque é capenga de resultado, ufanista e não realista ou prático. Feminino, não masculino.

O que isso tem que ver com o resultado das Olimpíadas? Muita coisa, reparando nos dez países com melhor desempenho olímpico percebe-se qua excetuando-se algumas (ex-)repúblicas comunistas, todos eles são países desenvolvidos (jargão que substituiu a antiga expressão 1º mundo). Claro está que o que torna o país desenvolvido não é apenas sua riqueza, mas, especialmente, o tripé educação-esporte-cultura. Quando alicerçado sobre este fundamento qualquer país passa a se desenvolver naturalmente e, conseqüentemente, melhora seu desempenho nos jogos. E aqui está o pulo do gato, a única forma de se estabelecer sobre este fundamento é através de uma política séria e continuada. O que implicaria em abandonar o ciclo interesse-voto que se estabeleceu no país.

O interesse-voto é um sistema que privilegia o individuo em detrimento do grupo. Uma vez que o voto passa a ser usado como objeto de barganha, cada um vota naquele que trará mais vantagens a si próprio. Os eleitos por sua vez estarão comprometidos com os indivíduos que lhe concederam votos e não com as comunidades e não pensarão duas vezes antes de usar seus próprios votos para barganhar em favor próprio. Tudo se torna leilão. Veja o caso de um presidente de câmara qualquer: buscando ser eleito ele terá de oferecer mais que seus adversários, conseqüentemente, ele surrupiará mais dos cofres públicos e prestará mais favores que qualquer um dos seus oponentes. Por si só, isso o faz o pior dos candidatos. O interesse-voto pode não eleger sempre o pior candidato, mas, sem dúvida, privilegia o menos honesto.

Ainda não está clara a ligação entre o patriotismo oco do brasileiro e o péssimo desempenho olímpico? O Brasil só conseguirá um bom desempenho olímpico quando passar a privilegiar educação, esporte e cultura. Isso, por sua vez, só acontecerá quando os políticos forem comprometidos com a sociedade. O que só será possível quando o brasileiro privilegiar o coletivo em detrimento do individual, parando de vender seus votos.

Civilidade é a palavra de ordem que precisa ser ensinada aos brasileiros ainda em seus berços. A apatia e o descaso com a coisa pública precisam ser deixados para trás. Todos precisam fazer política; lutar pela preservação de direitos e a aquisição de novos, cumprir com os seus deveres, fechar as brechas. Sim, isso implica em tornar o popular jeitinho brasileiro em sinônimo de criatividade e não mais de bandalheira. Significa pagar suas multas de trânsito, não comprar produtos contrabandeados e nem fazer gato da tv à cabo. Isto é praticar civilidade. Um país melhor, precisa do melhor de seu povo. Eis o que falta para que este país comprove sua vocação de potência mundial. E, então, que venham as medalhas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A auto-meritocracia ilusória

“O mundo hoje não está melhor que antigamente. Só está mais confortável”. Essa frase me fez refletir sobre o ser humano e sua relação com o mundo e consigo mesmo. No mundo de hoje, com a tecnologia reinando, a informação passando como uma grande correnteza através de hyperlinks, o consumismo na moda e o lazer profissionalizado, ainda tem-se a sensação de vazio. E como a originalidade é a arte de esconder as fontes, dizem por aí que essa fome vem da alma. A autocomiseração do indivíduo o faz trocar os valores das coisas e pessoas. Hoje, quem tem os melhores aparelhos de celular são os indivíduos da classe C. Essa idéia de “pobre de mim, trabalhei o mês inteiro e tenho o direito de comprar isso” faz com que as pessoas se afundem em dívidas infinitas e fiquem desesperadas ao se darem conta disso, fazendo-as gastar mais dinheiro ainda, com remédios, psicanalistas, mais consumismo, etc.

Passando em frente a uma favela hoje de manhã, vi um Monza estacionado em uma espécie de garagem. O indivíduo mora na favela mas tem carro. A troca de valores fica evidente quando vemos mães que fazem seus filhos pedirem esmolas nos faróis e depois vão para o pagode de noite ou alimentam seus vícios, como fumo e bebida. A pessoa passa a ser deixada de lado e a fome da carne fala mais alto. Os desejos passam a ser cada vez maiores e insaciáveis. Os sete pecados capitais já falavam disso há muito tempo, e hoje, eles estão no auge. E o pior disso tudo é que a cada dia fica pior. Quando pensamos que já vimos de tudo, vem outra desgraça acompanhada com um individualismo fútil e desgovernado que atinge os mais fracos e indefesos, como as crianças e velhos para citar os mais óbvios. Aposto que isso acontece também com você, quando seu cheque especial fica no vermelho. Comigo acontece. Existe uma “fome” que o faz gastar o que não pode. Deixemos de lado a fome do status e vamos nos concentrar em fome intrínseca. Status é fome para mostrar aos outros, onde a tradução mais clara que tive de status é comprar algo que você não precisa, com um dinheiro que você não tem, para mostrar para pessoas que você não gosta, aquilo que você não é. Vamos falar da sua fome pessoal, e não desta última. A fome pessoal exagerada, a gula nesse caso, faz o indivíduo cometer atrocidades financeiras e ainda assim permanecer com o desejo original, só mudando o problema de tamanho.

Essa fome da carne pode se estender para outras coisas, como o sexo, o roubo e o furto, a mentira, o desvio de conduta, a ira, entre outros males. De tempos em tempos a raça humana se supera em idiotice e mediocridade, como aniversário de cachorro em buffet, compras caríssimas onde não se tem o recurso, carros importados com moradias módicas, e por aí vai. De onde sai esse vazio todo?

Poderia arriscar a dizer que isso é a falta de entendimento do próprio indivíduo. As pessoas não se conhecem mais. Detestam estar sozinhas. Refugiam-se em shoppings lotados. Até mesmo no caminho para o trabalho elas preferem ficar na companhia de seus iPods do que na companhia de seus pensamentos. Não se aguentam. Não tem tempo para nada e gastam tempo com fugas da realidade. Conhecer a si mesmo também não é suficiente. É necessário o entendimento superior, do divino, para que o indivíduo mate a sua fome espiritual, e assim sacie a do corpo. A fome tresloucada pode ser saciada em meu entendimento, quando a pessoa entende que existe um Deus de amor e que esse Deus se importa com ela. É aí que existe a doação do indivíduo a esse poder numinoso que faz o impossível, retirando a mazela do vazio com um bisturi consciente e preciso, resgatando a pessoa para o amor original. Porém, voltando à frase do início, o mundo não está melhor. Jesus disse isso em Lucas 18:8 “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”. A distância do homem de Deus aumenta seu desconforto que não pode ser saciado com os prazeres da carne. Será que teremos consciência disso um dia e será que mesmo os cristãos entenderão que devem repousar na paz de Jesus, conforme ele mesmo disse em Mateus 11:29?

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mt.11:29

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Brasil de cada um

Vejo agora, próximo às eleições, que existem candidatos que pouco fizeram ou fizeram ridículo no seu último mandato estão liderando as pesquisas de voto. O TSE conseguiu finalmente colocar as informações de cada candidato quanto aos processos jurídicos que cada um carrega nos ombros, mesmo que este processo ainda não tenha sido julgado, mas que ao menos mostra a acusação contra aquele que pretende presidir um determinado posto público. Isso é muito bom, embora tardio, porém não é suficiente. Os brasileiros não dão valor ao Brasil. Não se sentem pertencentes a uma nacionalidade. Por isso existe a beleza da frase “Não somos xenofóbicos”, mas existe também a feiúra da frase “Não temos identidade”. Num país multicultural como o nosso, as identidades se perdem em meio a tanto estrangeirismo. Muitas vezes estrangeirismo dentro da própria casa. Para alguns que se perderam em sua ascendência, restou o labirinto de pensamento no que se diz pertencente a um povo, uma sociedade, que deveria lutar pelo certo e não pelo jeitinho.

Lá fora não tem jeitinho. Lá fora funciona direito. Quase como um “cada um por si”, o brasileiro vai levando a vida preocupado com suas coisas e despreocupado com quem ocupa o governo. Pelo pensamento de que “rouba mas faz”, “não é da minha conta”, “todos são iguais mesmos”, etc, etc, mergulhamos num profundo oceano de espertos que querem se dar bem e mamar nas tetas da pátria, às custas de otários que pagam seus impostos no final do mês. Percebo que a maioria que paga esse imposto se importa sim com o voto, porém o Brasil é composto pela maioria que não paga esse imposto, logo não se importa. Ou não paga porque sonega ou não paga porque é isento. E o recheio da bolacha é pressionado dos dois lados, do rico e do pobre, e tenta gritar para aqueles que não querem escutar.

Talvez se conseguíssemos construir um patriotismo mínimo que nos levasse a nos importarmos com o que acontece na nossa rua, no nosso bairro, na nossa cidade, no estado e país, talvez assim teríamos a coragem de cobrar de quem está pouco se importando. Talvez falaríamos àquele que achou um papel no chão de um candidato e votou neste para não fazer mais isso. Talvez não aceitaríamos votar em nosso parente sabendo que este só quer se dar bem, e deixaríamos isso claro para ele. O governo teria realmente que fazer a parte dele. Recentemente saiu uma matéria na Folha sobre uma pesquisa apontando que 42% dos jovens brasileiros sairiam do país. Quase a metade gostaria de se sujeitar a um subtrabalho com a oportunidade de estudar e trabalhar em outro país. Aqui não há emprego para determinadas profissões, e quando existem os salários são pífios. Não há incentivo do governo, nem nunca houve, e se mantivermos o nível dos políticos que lá estão, nunca haverá. Por isso devemos nos importar e cuidar bem do nosso voto.

Essa importância viria se nos sentíssemos pertencentes a algo ou que algo nos pertencesse. Se isso fosse nosso, brigaríamos. Se alguém mexer no meu carro eu vou me importar. Ele é meu, e suei para tê-lo. Se o Brasil fosse meu (se sentisse que fosse), eu iria me importar também. Teríamos então que constituir uma sociedade mais apegada a valores que hoje são cafonas, coisa de americano, perda de tempo. Os americanos sim constituem uma ordem de importância ao seu país. Cobram daquele que transgride, o denegridor, cobrando dele e isolando-o em muitos casos. Aqui os bons exemplos são contrários à ordem. O “esperto” é o perspicaz. O que engana é o inteligente. O que rouba, rouba mas faz. O que trafica, agrega seguidores e ganha a mulherada.

Valores tortos vindo de uma escola podre, ou da ausência desta. Ricos, pobres, classe média, todos querendo enxergar seus umbigos não podem levar isso aqui à Ordem e Progresso que estampa o símbolo nacional. Vamos tentar construir um patriotismo mínimo. O país não tem culpa, o povo sim. Por muitas vezes penso em ir embora daqui. Deixar isso para os podres, os desonestos e os que não se importam. Mas penso em minha família e amigos que deixaria. Penso que deixaria o próprio país, me acovardando diante da situação. Que a frase “sou brasileiro e não desisto nunca...” não seja agregada com a terminação “... de um dia viver longe daqui.” Faça sua parte. Incite outros a fazerem também. Seja honesto. Não é ser bobo, é ser gente. Não faça errado porque todos fazem. Tenha personalidade. Assuma o risco. Seja taxado de bobo sim, e daí? Quem te taxou? Que importância ele tem? Fazendo o seu, talvez haja espaço para o outro fazer também. Um exemplo vale por muitas teorias. Talvez aquele que tenha te taxado olhe a sua volta e perceba um monte de caras feias em sua direção. Então ele vai começar a fazer o certo, porque é o que os outros fazem. Os que não tem personalidade seguem a manada. Que esta manada dê o exemplo então.