segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A auto-meritocracia ilusória

“O mundo hoje não está melhor que antigamente. Só está mais confortável”. Essa frase me fez refletir sobre o ser humano e sua relação com o mundo e consigo mesmo. No mundo de hoje, com a tecnologia reinando, a informação passando como uma grande correnteza através de hyperlinks, o consumismo na moda e o lazer profissionalizado, ainda tem-se a sensação de vazio. E como a originalidade é a arte de esconder as fontes, dizem por aí que essa fome vem da alma. A autocomiseração do indivíduo o faz trocar os valores das coisas e pessoas. Hoje, quem tem os melhores aparelhos de celular são os indivíduos da classe C. Essa idéia de “pobre de mim, trabalhei o mês inteiro e tenho o direito de comprar isso” faz com que as pessoas se afundem em dívidas infinitas e fiquem desesperadas ao se darem conta disso, fazendo-as gastar mais dinheiro ainda, com remédios, psicanalistas, mais consumismo, etc.

Passando em frente a uma favela hoje de manhã, vi um Monza estacionado em uma espécie de garagem. O indivíduo mora na favela mas tem carro. A troca de valores fica evidente quando vemos mães que fazem seus filhos pedirem esmolas nos faróis e depois vão para o pagode de noite ou alimentam seus vícios, como fumo e bebida. A pessoa passa a ser deixada de lado e a fome da carne fala mais alto. Os desejos passam a ser cada vez maiores e insaciáveis. Os sete pecados capitais já falavam disso há muito tempo, e hoje, eles estão no auge. E o pior disso tudo é que a cada dia fica pior. Quando pensamos que já vimos de tudo, vem outra desgraça acompanhada com um individualismo fútil e desgovernado que atinge os mais fracos e indefesos, como as crianças e velhos para citar os mais óbvios. Aposto que isso acontece também com você, quando seu cheque especial fica no vermelho. Comigo acontece. Existe uma “fome” que o faz gastar o que não pode. Deixemos de lado a fome do status e vamos nos concentrar em fome intrínseca. Status é fome para mostrar aos outros, onde a tradução mais clara que tive de status é comprar algo que você não precisa, com um dinheiro que você não tem, para mostrar para pessoas que você não gosta, aquilo que você não é. Vamos falar da sua fome pessoal, e não desta última. A fome pessoal exagerada, a gula nesse caso, faz o indivíduo cometer atrocidades financeiras e ainda assim permanecer com o desejo original, só mudando o problema de tamanho.

Essa fome da carne pode se estender para outras coisas, como o sexo, o roubo e o furto, a mentira, o desvio de conduta, a ira, entre outros males. De tempos em tempos a raça humana se supera em idiotice e mediocridade, como aniversário de cachorro em buffet, compras caríssimas onde não se tem o recurso, carros importados com moradias módicas, e por aí vai. De onde sai esse vazio todo?

Poderia arriscar a dizer que isso é a falta de entendimento do próprio indivíduo. As pessoas não se conhecem mais. Detestam estar sozinhas. Refugiam-se em shoppings lotados. Até mesmo no caminho para o trabalho elas preferem ficar na companhia de seus iPods do que na companhia de seus pensamentos. Não se aguentam. Não tem tempo para nada e gastam tempo com fugas da realidade. Conhecer a si mesmo também não é suficiente. É necessário o entendimento superior, do divino, para que o indivíduo mate a sua fome espiritual, e assim sacie a do corpo. A fome tresloucada pode ser saciada em meu entendimento, quando a pessoa entende que existe um Deus de amor e que esse Deus se importa com ela. É aí que existe a doação do indivíduo a esse poder numinoso que faz o impossível, retirando a mazela do vazio com um bisturi consciente e preciso, resgatando a pessoa para o amor original. Porém, voltando à frase do início, o mundo não está melhor. Jesus disse isso em Lucas 18:8 “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”. A distância do homem de Deus aumenta seu desconforto que não pode ser saciado com os prazeres da carne. Será que teremos consciência disso um dia e será que mesmo os cristãos entenderão que devem repousar na paz de Jesus, conforme ele mesmo disse em Mateus 11:29?

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mt.11:29

Um comentário:

Cristiano Silva disse...

Lendo seu post, eu me lembrei de Mofo, música de abertura do CD Pop do U2, uma obra voltada justamente para criticar o consumismo dos tempos modernos. Um dos trechos desta letra diz:

Looking for to fill that God shaped hole...

É isso: há um vazio do tamanho de Deus nas pessoas, e elas não conseguem nunca preenchê-lo com outras coisas. Além disso, hoje as pessoas são medidas pelo o que elas tem, e não pelo o que elas são. É a crise do Ser e do Ter dos tempos modernos.

Excelente post.

Abraços,

Cristiano.