Faltando três dias para o encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Brasil está no trigésimo sexto lugar do quadro geral de medalhas. Olhando para trás é possível perceber que esta é uma condição endêmica. Nas Olimpíadas de Atenas, onde o Brasil conseguiu sua melhor performance na história das jogos modernos, ele obteve apenas a décima sexta posição, atrás de países como Cuba, Grécia, Ucrânia e Romênia. Para se ter uma idéia do ridículo da performance brasileira, a décima sexta posição que lhe pertenceu em Atenas, hoje é da poderosissima Nova Zelândia. A pergunta que fica é, como um país que tem a décima economia mundial e a quinta maior população do planeta só consegue resultados pífios?
Antes de começar a descascar o pepino é importante esclarecer alguns pontos que ficam normalmente nebulosos ou são completamente esquecidos: O primeiro é o fato de que não existe nenhum tipo de equiparação entre as medalhas de ouro, prata e bronze. Assim, não importa que seu país tenha duzentas medalhas de bronze, se o outro país tem uma prata ele está em melhor colocação. Segundo, e aqui há algo realmente importante, muitas modalidades esportivas são divididas por categorias de forma que países com tradição nessas modalidades acabam arrebanhando muitas medalhas. Cuba em Atenas, por exemplo, dos nove ouros que conseguiu, cinco foram no boxe. A Romênia obteve oito ouros, quatro na ginástica artística e três no remo. Se as medalhas nessas duas modalidades fossem tiradas da Romênia, seu desempenho de oito ouros, cinco pratas e seis bronzes cairia para um ouro, duas pratas e três bronzes. O Brasil, que só tem tradição mesmo em esportes coletivos, acaba não sendo beneficiado pela divisão de categorias, uma vez que ela não existe nessas modalidades. Claro está que isto não abona o Brasil, mas ao menos ajuda a explicar como alguns países pequenos conseguem bons desempenhos nos jogos.
Agora, o pepino. O Brasil tem um povo patriota que carece de civilismo. Quando em competições internacionais ou em viagens para o exterior, o brasileiro torce e se vangloria das belezas naturais, da cultura, do povo, da tolerância. Agora, uma vez entre os seus, ele cala e se constrange. Aceita absurdos parecendo não se importar com o dia de amanhã. Assim, o amor pátrio do brasileiro é para inglês ver, porque é capenga de resultado, ufanista e não realista ou prático. Feminino, não masculino.
O que isso tem que ver com o resultado das Olimpíadas? Muita coisa, reparando nos dez países com melhor desempenho olímpico percebe-se qua excetuando-se algumas (ex-)repúblicas comunistas, todos eles são países desenvolvidos (jargão que substituiu a antiga expressão 1º mundo). Claro está que o que torna o país desenvolvido não é apenas sua riqueza, mas, especialmente, o tripé educação-esporte-cultura. Quando alicerçado sobre este fundamento qualquer país passa a se desenvolver naturalmente e, conseqüentemente, melhora seu desempenho nos jogos. E aqui está o pulo do gato, a única forma de se estabelecer sobre este fundamento é através de uma política séria e continuada. O que implicaria em abandonar o ciclo interesse-voto que se estabeleceu no país.
O interesse-voto é um sistema que privilegia o individuo em detrimento do grupo. Uma vez que o voto passa a ser usado como objeto de barganha, cada um vota naquele que trará mais vantagens a si próprio. Os eleitos por sua vez estarão comprometidos com os indivíduos que lhe concederam votos e não com as comunidades e não pensarão duas vezes antes de usar seus próprios votos para barganhar em favor próprio. Tudo se torna leilão. Veja o caso de um presidente de câmara qualquer: buscando ser eleito ele terá de oferecer mais que seus adversários, conseqüentemente, ele surrupiará mais dos cofres públicos e prestará mais favores que qualquer um dos seus oponentes. Por si só, isso o faz o pior dos candidatos. O interesse-voto pode não eleger sempre o pior candidato, mas, sem dúvida, privilegia o menos honesto.
Ainda não está clara a ligação entre o patriotismo oco do brasileiro e o péssimo desempenho olímpico? O Brasil só conseguirá um bom desempenho olímpico quando passar a privilegiar educação, esporte e cultura. Isso, por sua vez, só acontecerá quando os políticos forem comprometidos com a sociedade. O que só será possível quando o brasileiro privilegiar o coletivo em detrimento do individual, parando de vender seus votos.
Civilidade é a palavra de ordem que precisa ser ensinada aos brasileiros ainda em seus berços. A apatia e o descaso com a coisa pública precisam ser deixados para trás. Todos precisam fazer política; lutar pela preservação de direitos e a aquisição de novos, cumprir com os seus deveres, fechar as brechas. Sim, isso implica em tornar o popular jeitinho brasileiro em sinônimo de criatividade e não mais de bandalheira. Significa pagar suas multas de trânsito, não comprar produtos contrabandeados e nem fazer gato da tv à cabo. Isto é praticar civilidade. Um país melhor, precisa do melhor de seu povo. Eis o que falta para que este país comprove sua vocação de potência mundial. E, então, que venham as medalhas.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
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