sábado, 17 de outubro de 2009

De seu filho

Lembra-te daquele tempo? Eras uma desconhecida. Ninguém sequer sabia de tua existência. Havia em ti um coração selvagem. Parece que faziam competições e acordos para que se um dia encontrassem algo parecido com tua riqueza, teriam precedência em tua posse. Você não fazia idéia de como esses homens eram maus. A grande verdade, eram interesseiros e ouviram falar de tua riqueza, mesmo antes de te conhecerem. Armavam um plano para serem apresentados. Hoje sabemos como a história caminhou, mas que bom seria se tivesse conhecido aquelas intenções logo no começo, não é?

Naquela época em que ele chegou, acredito que não fazia idéia do que lhe poderia machucar mais. Ele abusou de ti. Lhe arrancou a virgindade como quem deflora um botão de rosa no uni-duni-tê do devaneio. Nem se importou contigo. Tinha um objetivo que era a tua riqueza, e como eras tola, caiu em sua cantada, pois não tinhas mal em teu peito. Sei que tentou abandoná-lo. Tua cabeça havia sido capturada por um rapagão de outras terras. Forte e destemido te colocou em dúvida quanto a quem dividiria tua riqueza. Mas ele queria mesmo era construir uma vida contigo. Te mostrou a cultura e um mundo diferente. Foi talvez o único que não queria te usar. Aquele sim era homem para ti. Apesar de ter fruta no título, era destemido. Era príncipe! Sabia que tu tinhas potencial. Mas por uma leva do destino, quisera este que tu o expulsasse, logo quem te queria bem, para continuar com o primeiro.

Quando, então, descobriu o primeiro que tu tinhas ouro, começou a querer te roubar, como se não foste perceber. Não consigo deixar de imaginar teu olhar triste, sabendo que estava sendo roubada, mas não podia reagir, temendo o pior. Mas te digo que antes fosse tomada pelo ódio e perecesse perante todos a viver daquele jeito. Só poderia terminar mesmo como terminou. Fazendo trabalho bruto, enchendo a casa dos patrões que te contratam a preço de banana e não te deixam desenvolver teu potencial, pois sabem que o que tem dentro de ti é covarde. Sabem que tua semente é individualista.

Viu teu irmão como foi mais feliz? Hoje ele domina lá do alto. É o chefe de todos, mesmo sabendo que outros avançam rápido. Ele não teve o mesmo destino que tu tiveras porque foi criado de maneira diferente. Nele foram plantados as sementes certas, e frutificaram. Tu só eras rica, e tola. Em tua volta só marginais e perdidos. Teu irmão não fez casamentos, mas alianças. Sabia que tinha potencial. Tu só tratou de esconder tua vergonha e seguiu fingindo que estava tudo bem, que era acolhedora, que dava-se um jeitinho, que podia fazer de conta que não viu. Esse teu bem virou um grande mal. Hoje está aí, largada. Muito atrás de seu irmão que mora no norte.

Tua farsa de se declarar independente anos depois só foi mais uma coisa sem sentido, pois tua primeira união fora podre, e de nada valia àquela altura. Mas hoje, depois de tudo que sofreste, não consigo ainda entender o motivo que estás aí, na situação que estás. Teve filhos, mas não foi capaz de ensinar-lhes o valor de uma mãe? Como podes criar filhos e estes te desprezarem? Até escolhem quem mandará em ti, sabendo que são cafajestes mas contanto que lhe garantam a mesada miserável, tudo bem. Tu permites cada uma...

Escrevo-te porque sei que tens potencial para mudar, mas sinceramente não sei se acredito em tua mudança. Mesmo sabendo que não há outra forma de mudar de vida sem educação, tu pareces não querer saber disso, e teus filhos só querem fazer festa e farrear a noite toda. Quando será que um dia poderei olhar pra ti e sentir orgulho? Hoje me sinto mal e sei que pior que o ódio é a indiferença. Ainda estou no ódio e isso é bom de certa forma. Essa carta é uma ponta de esperança, embora minguada andas em mim. Vamos, reaja! Sabes que tem filho bom, que podem fazer por ti. Vamos, acorde desse sonho eterno! Seja símbolo! Ó pátria amada, Brasil.

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